"Com o protesto do corpo doente pelos safanões tormentosos da longa caminhada, vim aqui despedir-me do Portugal primevo. Já o fiz das outras imagens da sua configuração adulta. Faltava-me esta do ovo embrionário."
Miguel Torga, Miguel Torga e a Região de Arganil, 1991
Piódão é uma aldeia onde a comunhão do Homem com a natureza ainda reinam sobre a ganância do homem. A simplicidade das casas de xisto, pontilhadas pelo azul das suas portas, quase que parece uma aldeia retirada dos contos infantis, alguns até apelidando de uma “aldeia de bonecas” ou a “aldeia do Astérix”.
Este segredo protegido pela Serra do Açor, ergueu-se num lugar inóspito, mas que mais tarde se tornou harmonioso com a sua envolvente. As casas distribuem-se nos socalcos da serra, divididas por sinuosas e estreitas ruelas, escondendo em si histórias merecedoras do seu tempo.
Uma das mais belas histórias de amor que Portugal já presenciou foi a paixão proibida entre D. Pedro I de Portugal e D. Inês de Castro, aia da esposa de D. Pedro I, D. Constança Manuel. Este era um casamento perfeito para a coroa portuguesa, pois o herdeiro português casara com a filha de um dos maiores aliados do império. Mas o amor não cede o seu poder a alianças estratégicas e, mesmo depois do rei D. Afonso IV ter exilado D. Inês no castelo de Albuquerque, os amantes continuaram a trocar correspondência.
E numa jogada do destino, D. Constança morre ao dar à luz o futuro rei de Portugal, D. Fernando I. Não tardou muito até se ouvirem boatos de que D. Pedro se teria casado com D. Inês em segredo, e à revelia do rei. Furioso, D. Afonso IV vai com Pero Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco ao Paço de Santa Clara, em Coimbra, onde os dois se tinham instalado e executa Inês de Castro. D. Pedro I, revoltado, decide perseguir e matar os seus carrascos.
E aqui é onde Piódão tem um papel nesta trágica história de amor. Um dos carrascos, Diogo Lopes Pacheco, decide fugir para a beira alta e encontra na “aldeia presépio" o refúgio perfeito para escapar à raiva de D. Pedro. O seu plano resulta e mais tarde consegue fugir pela fronteira para França. Mais tarde, no leito de morte, acaba por ser perdoado pelo rei português.
Piódão é assim uma aldeia que, mesmo protegida pela natureza da ganância do homem, não deixa de estar presente na história do país e dos portugueses. Visite esta aldeia e sinta-se transportado para uma nova dimensão, para uma relação única entre a história, o Homem e a natureza e seja encantado pela beleza majestosa da paisagem. Estamos á sua espera 😊